Em 2010, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) reprovou 68% dos formandos de Medicina na fase final. Foi o pior resultado, nesta etapa, em seis anos de prova. Ainda que a participação dos estudantes seja voluntária, sendo que apenas 533 formandos participaram da primeira fase dos cerca de 2.600 que se formam anualmente, o resultado é preocupante. Para realizar a segunda fase, o estudante deveria acertar 60% da primeira prova.
O baixo nível de acerto em Ciências Básicas (54,14% de acertos), Saúde Pública/Epidemiologia (54,78%) e Clínica Médica (56,77%), mostra que, além da formação médica deficiente, os novos profissionais não estão preparados para a EMERGÊNCIA, porta de entrada do médico na profissão.
Reconhecimento no Exterior
O primeiro programa de Residência Médica em Medicina de Emergência nos Estados Unidos foi implantado em 1970, na University of Cincinatti. Já em 1972, foi publicado o Journal of the American College of Emergency Physicians (Jacep), atual Annals of Emergency Medicine, principal periódico sobre o assunto.
Finalmente em Setembro de 1979, a Medicina de Emergência passou a ser considerada uma especialidade médica pelo American Board of Medical Specialities a pela American Medical Association (AMA). Esse mesmo caminho ocorreu no Reino Unido, Austrália, Coréia do Sul, China, Canadá, México, Peru, África do Sul e tantos e tantos países, de todos os continentes.
Na maioria dos países em desenvolvimento, os pacientes graves são atendidos em ambulâncias terceirizadas e por médicos recém-formados. Vistos como funcionários temporários, além de conviverem com a superlotação dos hospitais, há equipamentos ruins e, muitas vezes, os residentes são vítimas de péssimas relações trabalhistas. "O que acontece no Brasil, é que o indivíduo está fazendo residência em outra área, mas quer ganhar um dinheirinho extra, então ele vai trabalhar na emergência, ou, por exemplo, um rapaz formado há 15 anos, mas quer comprar um apartamento" revela Herlon Saraiva Martins, médico assistente do Pronto-Socorro do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), autor de vários livros de Medicina de Emergência. "Hoje, a área é vista como um 'ganha-pão' para o médico que pretende receber alguma remuneração extra. Mas você deixaria, por exemplo, um pediatra operar sua cabeça?", questiona.
Luta Nacional
A falta de reconhecimento da especialidade pelos órgãos nacionais reguladores impede que universidades públicas e hospitais escola abram Residência Médica de Medicina de Emergência. A Faculdade de Medicina da USP foi pioneira no Brasil na criação de uma disciplina voltada para as emergências, desde 1992. Por sua vez, a primeira residência médica em Medicina de Emergência no país foi criada em Porto Alegre.
"Para que a especialidade seja efetivamente reconhecida, ela precisa das aprovações da Associação Médica Brasileira, do Conselho Federal de Medicina e da Comissão Nacional de Residência Médica. Infelizmente, essas instituições já estão adiando esse debate há 15 anos", afirma Martins.
Planos Futuros
Nos EUA e na Europa, um médico, para poder trabalhar com Emergências Médicas, tem que fazer entre três e cinco anos de residência e especialização. "No Brasil, um médico que vai para o exterior fazer especialização na área e volta ao país, acaba no mesmo patamar de um recém-formado" afirma Martins.
Estar constantemente atualizado é um dos requisitos primordiais para quem vai trabalhar na área. "Anualmente, são publicados milhões de artigos científicos. Teríamos que ler centenas deles por dia para nos manter atualizados, o que é inviável", afirma o emergencista.
Fonte: Matéria da Capa da Revista MedAtual, 2ª Edição, Fevereiro/Março de 2011, Ano 2, páginas 24-26. Quer ler a matéria na integra? Acesse: http://www.medatual.com.br/revista/rev_medatual_02/
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